Deus, quando a morte vier ajuda-me a acalmar e a aceitar o irreversível.
Quando chegar a minha hora Pai,
que a tua piedade se estenda ao meu sofrimento e não permitas que me tome o
medo.
Quebra-me o ânimo da revolta para
que saiba ir docemente ao teu encontro.
Que os sonhos por cumprir, já não
sejam, nessa hora, mais importantes e que eu encontre gratidão no meu coração por
tudo o que deixo de mim.
Pacifica o meu coração e a minha
alma e que eu tenha a coragem de olhar os que ficam com desapego.
E se eu não for capaz, tira-me a
lucidez Pai.
Reconheço que vivi do ontem para o amanhã, nem sempre aproveitando o tempo que me davas a cada dia.
Que não soube ser feliz porque
estava sempre à procura de mais e de ir mais além.
Esqueci a gratidão por tudo quanto tinha e a minha insatisfação era permanente.
Olhava em volta e achava todos mais felizes, mais ricos e mais importantes.
Vivi copiando e perseguindo um estilo de vida que não tinha a ver comigo.
Fui tola, fútil, ignorante de
quem eu era.
A vida não é justa porque chegamos a este mundo inocentes, entregues a seres imaturos que não sabem nem querem aprender os valores da verdadeira vida, porque também assim foi com eles… cegos conduzindo outros cegos!
Distraídos pelos brilhos que nos
cercam, vivemos com os outros e pelos outros, mas sem os valores da verdadeira
solidariedade.
Gastamos a vida a tentar
aprender, buscando dos outros nem sempre os ensinamentos adequados e só na irreversibilidade
do fim percebemos o que é realmente importante.
Porquê esta imaturidade Pai?
Porquê este desperdiçar do tempo?
Sobra no fim e quando já é tarde, o remorso e a consciência do que é verdadeiramente importante, mas que não soubemos preservar.
Que caminho é este Pai, que todos
fazemos, com maior ou menor consciência de o tentar fazer bem, para no final
sermos confrontados com a solidão e o abandono daqueles por quem
mais fizemos?
É castigo ou é apenas uma convicção
falsa e o fim desamparado é a prova disso
mesmo.
Pecados de outras vidas ou apenas
da que termina nessa orfandade de amor dos que mais amamos?
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