quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CORPO POEMA_Graça Costa

 

Do meu corpo nascem poemas cantados .
A cada toque, a pele responde com um grito surdo,
meio gemido,
meio lamento
meio sussurro
meio tormento.

A cada beijo, reinvento-te,
reinvento-me.
Saboreio-te como saboreio o poema,
letra a letra,
palavra a palavra,
rima a rima
ou rima nenhuma
mas lenta e suavemente
como tango dançado à luz do luar
em noite de verão.

Depois, volto e ler-te
e afago lentamente as palavras
que te acendem a paixão
e que te prendem a mim.

A ti me colo,
meu poema meio escrito,
por vezes gemido,
outras sussurrado,
e assim adormeço,
sem saber se durmo
ou apenas descanso
nesse teu colo feito cama,
só para me receber.

©Graça Costa
imagem da web


6 comentários:

  1. Quem me dera ser poeta!Em dois dias, dois belos e sensuais poemas! Este da Graça Costa duma sensualidade de corpo e palavras num só tronco, o da Fátima Rodrigues, apaixonadamente desesperado. Espero lê-las muitas vezes para meu deleite1

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  2. Este espaço, que parece um pouco adormecido com a voz sem voz da girafa, está a despertar como cantinho poético, graças à acção de alguns seus colaboradores que descobriram essa bela via de comunicação. Um aceno especial para a Graça Costa e Fátima Rodrigues, duas distintas musas dessa arte. Obrigado a ambas e Parabéns pelo génio que as acompanha.

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  3. Parabéns, assim é um prazer consultar este blogue.

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  4. Muito obrigada pelo incentivo e um enorme bem haja por "me lerem" Fernando Rodrigues, Joaquim Tapadinhas e Diamantino Reis.

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  5. Estou como o amigo Fernando Rodrigues: quem me dera ser assim (acrescentei o assim) poeta.
    Maravilha! Parabéns!

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  6. Obrigada pela generosidade do comentário Francisco.
    Ando a aprender a "dançar" com as palavras e é uma aprendizagem saborosa, devo dizê-lo

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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Desapego

 

Estranho desapego experimento.       

Estranha é a calma que me invade.           
Serena sensatez sem fundamento,           
da paz que vem agora, quando é tarde.     

Eu tive o teu amor, mas certamente        
os sonhos que eu sonhei não eram meus.          
Vivia no teu mundo aparente         
onde te adulava como a um deus              

Mil dias vi nascer à tua espera.              
Mil noites vi chegar sem que viesses.       
Ciladas da ilusão, duma quimera            
que cedo me agarrou sem que o quisesse. 

Eu fiz versos pra ti sem tu saberes.          
Palavras te escrevi que tu não leste.         
Segredos que guardei, como deveres
desse amor pecado que me deste.            

Agora que o fim está iminente        
já nada mais fará que volte atrás             
e os sonhos que sonhei intensamente       
pra mim já pouco importam, tu verás!     

Estranhas a indiferença que aparento            
depois dos muitos anos que te amei?        
estranhas mas não sabes o que lamento    
de ver aquilo em que me transformei.  


TERÇA-FEIRA, 24 DE JANEIRO DE 2017    


6 comentários:

  1. Poema duma profundidade amorosa caldeada pelo desencanto. A Florbela Espanca não fez melhor. Parabéns pela capacidade genial de o construir.

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  2. Sempre generoso nas suas avaliações. Obrigada
    Florbela Espanca, como gosto da sua triste poesia.

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  3. O amigo Tapadinhas não exagerou. Também adorei. Excelente. Parabéns!

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  4. Fátima.... Uau! Que força apaixonada! Muito belo e intenso. Parabéns.

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