A
notícia apanhou-me de surpresa: a FB faleceu.
De
quê, perguntei, pensando na doença maldita que não nos larga – o Covid-19?
Não! Estava doente há alguns anos com um tumor no cérebro.
Foi
como um murro no estômago.
O
quê? Como?
Fomos
colegas de trabalho durante longos anos. Estive com ela em momentos dolorosos
da vida quando precisou esconder as lágrimas perante os outros, ela que tanto
preservava a sua vida pessoal mas gostava de saber da dos outros na sua forma
mais supérflua.
Era
uma guerreira e não é um lugar comum porque era mesmo uma mulher batalhadora. Habituada
a valer-se por si mesma após um divórcio doloroso, procurava chegar onde
precisava sem grandes subtilezas.
De
convívio nem sempre fácil, muito dada a trivialidades, quando a conversa
derivava para assunto de maior profundidade, tornava-se arredia como se fosse, para ela, pura perda de tempo.
Cheguei
a perceber nessa atitude uma estratégia para melhor ultrapassar os problemas. Muita
da sua força advinha da superficialidade a que se dedicava constantemente.
Activa,
trabalhadora, excelente mãe, até certo ponto obcecada pelo único filho,
verdadeiro amor da sua vida.
Não
teve uma vida fácil nem um casamento feliz e depois do divórcio ficaram, ela e
o filho, a quem se dedicou de corpo e alma.
Quando,
por sua vez, este seguiu a sua vida, continuou dedicada a ele e aos netos que
vieram, colocados sempre em primeiro lugar.
A
futilidade era o seu melhor passatempo. Da sua janela via a vida dos outros e
com isso ocupava grande parte do tempo.
Reformou-se,
depois de longa carreira e rapidamente a doença apanhou-a.
Ao
longo dos anos de convívio percebi o pânico que ela tinha desse mal que já lhe
tinha levada a mãe e uma irmã e que de vez em quando lhe rondava a família como
animal feroz.
A
irmã foi também com um tumor no cérebro e eu acompanhei o enorme sofrimento por
essa perda. Inconscientemente ela sentia que era uma herança genética que fatalmente
chegaria. Vivia aterrorizada.
Quando
a roleta parou nela, imagino eu agora, como teria sido o desamparo em que se
viu.
Pobre
amiga que me procuraste pedindo o meu contato, dizendo-te saudosa de mim.
Soberbamente
pensei que seria mais algum dos teus pedidos, de que não te inibias sempre que
precisavas. Fizeste-o durante anos, quando procuravas melhorar a vida dos que
amavas. Sem vergonha, sem orgulho, ias em frente até conseguires.
Mas
não era! Parece que tentaste partilhar comigo a dor que te atravessava a alma e
eu, ignorante, não percebi.
Agora
o remorso não me abandona desde o dia em que soube da tua partida.
Não
sei como foram os teus últimos anos, desde que a doença traiçoeira te apanhou. Só
desejo do fundo do coração que aqueles que tanto amaste, te tenham amado de
igual maneira e tenham estado contigo até ao último suspiro.
Que
a tua alma inquieta se aquiete finalmente e descanse e que as dificuldades que
venceste na vida sejam agora creditadas a teu favor na vida que inicias agora
em outro plano.
Vai amiga e que o teu caminho seja suave.
Que encontres aqueles
de quem sentias saudades e que eles sejam agora o teu amparo.
Até sempre!