sexta-feira, 7 de maio de 2021

Até sempre!

 A notícia apanhou-me de surpresa: a FB faleceu.

De quê, perguntei, pensando na doença maldita que não nos larga – o Covid-19?

Não! Estava doente há alguns anos com um tumor no cérebro.

Foi como um murro no estômago.

O quê? Como?

Fomos colegas de trabalho durante longos anos. Estive com ela em momentos dolorosos da vida quando precisou esconder as lágrimas perante os outros, ela que tanto preservava a sua vida pessoal mas gostava de saber da dos outros na sua forma mais supérflua.

Era uma guerreira e não é um lugar comum porque era mesmo uma mulher batalhadora. Habituada a valer-se por si mesma após um divórcio doloroso, procurava chegar onde precisava sem grandes subtilezas.

De convívio nem sempre fácil, muito dada a trivialidades, quando a conversa derivava para assunto de maior profundidade, tornava-se arredia como se fosse, para ela, pura perda de tempo.

Cheguei a perceber nessa atitude uma estratégia para melhor ultrapassar os problemas. Muita da sua força advinha da superficialidade a que se dedicava constantemente.

Activa, trabalhadora, excelente mãe, até certo ponto obcecada pelo único filho, verdadeiro amor da sua vida.

Não teve uma vida fácil nem um casamento feliz e depois do divórcio ficaram, ela e o filho, a quem se dedicou de corpo e alma.

Quando, por sua vez, este seguiu a sua vida, continuou dedicada a ele e aos netos que vieram, colocados sempre em primeiro lugar.

A futilidade era o seu melhor passatempo. Da sua janela via a vida dos outros e com isso ocupava grande parte do tempo.

Reformou-se, depois de longa carreira e rapidamente a doença apanhou-a.

Ao longo dos anos de convívio percebi o pânico que ela tinha desse mal que já lhe tinha levada a mãe e uma irmã e que de vez em quando lhe rondava a família como animal feroz.

A irmã foi também com um tumor no cérebro e eu acompanhei o enorme sofrimento por essa perda. Inconscientemente ela sentia que era uma herança genética que fatalmente chegaria. Vivia aterrorizada.

Quando a roleta parou nela, imagino eu agora, como teria sido o desamparo em que se viu.

Pobre amiga que me procuraste pedindo o meu contato, dizendo-te saudosa de mim.

Soberbamente pensei que seria mais algum dos teus pedidos, de que não te inibias sempre que precisavas. Fizeste-o durante anos, quando procuravas melhorar a vida dos que amavas. Sem vergonha, sem orgulho, ias em frente até conseguires.

Mas não era! Parece que tentaste partilhar comigo a dor que te atravessava a alma e eu, ignorante, não percebi.

Agora o remorso não me abandona desde o dia em que soube da tua partida.

Não sei como foram os teus últimos anos, desde que a doença traiçoeira te apanhou. Só desejo do fundo do coração que aqueles que tanto amaste, te tenham amado de igual maneira e tenham estado contigo até ao último suspiro.

Que a tua alma inquieta se aquiete finalmente e descanse e que as dificuldades que venceste na vida sejam agora creditadas a teu favor na vida que inicias agora em outro plano. 

Vai amiga e que o teu caminho seja suave. 

Que encontres aqueles de quem sentias saudades e que eles sejam agora o teu amparo.    

Até sempre!    

Sem comentários:

Enviar um comentário

O colo de Deus...

  Dali, eu via o mundo Saltava pelas montanhas Lutava com gigantes  e os vencia... Pendurado nas estrelas  o meu baloiço voava. Ali, nesse c...