Arrasto pelas ruas
minha nudez esfarrapada,
andrajosa...
Por ruas e vielas na mais nojenta vista.
Virulentas feridas de fétido cheiro...
De onde venho, que não lembro?
Quem fui eu também esqueci!
...apenas calco a soleira dum casebre
em busca de alguma coisa que acalme a fome que me esgana
e logo uma voz rude e austera me escorraça
e como a um cão faminto se dirige...
Meu Deus, meu Deus, que me abandonaste.
Acaso não sou uma das tuas criaturas?
E volto de novo à rua rastejando,
já não tenho forças para caminhar.
Percorro a duras penas as vielas
que me levam para fora do lugar.
E eis-me num ermo,
no meio de nada,
sem cor, sem ar e sem cheiro...
...a pouco e pouco se apagam as imagens
dos meus olhos,
do meu cérebro...
Sinto o chão molhado, lamacento
estou caída no chão...
Meu Deus dá-me a caridade
de apagar a dor
desta minha alma fatigada...
Publicada
por Fátima Rodrigues à(s) 22:49